Escola Iolanda Pires
Coordenação Pedagógica: Márcia Cruz e Alaíse Diniz
Tema: Brincando e Cantando também se aprende
Clientela: Professores e alunos das turmas de CIN – Ciclo da Infância – Fases: I, II, III (1º, 2º e 3º) anos e CPA I (4º ano) do Ensino Fundamental
Período de desenvolvimento: um trimestre (de 15 de março a 15 de junho) de 2010
Áreas envolvidas: Expressão, Ciências Sociais, Ciências da Natureza e Matemática
Projeto de Intervenção Pedagógica na alfabetização e letramento
1. TEMA: “CANTANDO E BRINCANDO TAMBÉM SE APRENDE”!
2. EIXO TEMÁTICO: Pluralidade Cultural
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA /JUSTIFICATIVA:
A criança vive mergulhada num ambiente sonoro. Ainda bebê, brinca com os sons. A sua comunicação é lúdica. À medida que se vai socializando, vai interiorizando a língua de seu povo. Além das palavras, evidencia também a sua entonação, melodia, sotaque, ritmo, sentido. “O que a linguagem poética faz é essencialmente jogar com as palavras. Ordena-as de maneira harmoniosa, e injeta mistério em cada uma delas, de modo tal que cada imagem passa a encerrar a solução de um enigma” (HUIZINGA, 1990, p.149).
As cantigas de ninar, assim como as cantigas de roda fazem parte da literatura infantil. São poesias populares que em cada contexto ganham novos sentidos na fala dos seus interlocutores. Segundo Kishimoto (1997, p. 38): “A cultura não-oficial, desenvolvida especialmente de modo oral, não fica cristalizada. Está sempre em transformação, incorporando criações anônimas das gerações que vão se sucedendo”.
As cantigas de roda são poesias e poemas cantados em que a linguagem verbal (o texto), a música (o som), a coreografia (o movimento) e o jogo cênico (a representação) se fundem numa única atividade lúdica (MARTINS, 2003). Introduzidas nas escolas no Brasil pelos povos colonizadores, principalmente pelos povos portugueses, todas as cantigas de roda foram modificadas e adaptadas pelas crianças para cada contexto brasileiro.
Percebe-se então a força da tradição oral. Em cada contexto o universo da criança dispõe de um banco de imagens, consideradas expressivas dando um significado para o seu mundo infantil.
Essa tradição oral de expressão poética que a criança vivencia ludicamente desde a mais tenra idade no contexto familiar, deve ser cultivada na escola. Magalhães (1987, p.40) nos alerta para a necessidade da criança ter experiências com linguagem poética:
A poesia, na escola, deve oferecer a experiência de o sujeito tornar-se sujeito de sua língua, isto é, que ele não se sujeite mais à língua como um dom exterior a ela, sobre o qual ele não tem direito, mas apenas deveres, como no uso da língua normativa. Tal colocação não implica uma oposição entre linguagem poética e linguagem não poética, mas trata-se tão-somente de pretender que a criança tenha com a língua uma experiência que lhe permita tomar consciência de que esta lhe oferece muitas possibilidades, não apenas a relação passiva entre língua e falante, mas a possibilidade de uma experiência lúdica com o fenômeno lingüístico.
Além da experiência lúdica com o fenômeno lingüístico, as cantigas de roda podem oferecer para a criança, através dos seus textos poéticos, um manancial de ensinamentos condensados. Evidencia Kishimoto: “Enquanto manifestação livre e espontânea da cultura popular, a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar” (1997 p. 38-39). Percebe-se que as interações sociais, através de brincadeiras tradicionais ocupam um lugar de destaque no desenvolvimento infantil.
As cantigas de roda estão repletas de elementos significativos para o desenvolvimento infantil, como os signos e os símbolos, por exemplos. As palavras são signos verbais e têm significados. A linguagem das cantigas de roda é um sistema de símbolos (gestos, sons, além das palavras). O significado faz parte da palavra, é um critério da palavra, e esta pertence ao domínio mental e da linguagem. “O reconhecimento do fato de que esses signos verbais têm significado constitui a maior descoberta da vida da criança” (VYGOTSKI, 1994, p.31). Os signos verbais estão atrelados aos objetos. Esses elementos, aliados às diversas vivências pedagógicas na escola podem constituir, estimular, ampliar funções psicológicas que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação. Funções que amadurecerão, mas que estão no presente em estado embrionário.
Nesse sentido, quanto mais ricos forem as atividades das crianças com signos e símbolos, mais os esquemas operativos e perceptivos estimularão sua criação imaginária, permitindo-lhe ir além do real, o que colabora para o seu desenvolvimento.
No entanto é bom lembrar que o desenvolvimento cognitivo não ocorre independentemente do desenvolvimento emocional, afetivo ou social, como se cada uma destas áreas fosse um compartimento estanque apenas acoplado aos outros. Acontece justamente o contrário: o processo é integrado, dando ao desenvolvimento um caráter harmônico.
Nesse projeto as cantigas de roda como toda atividade lúdica, vão estar a serviço da criança do ciclo da infância. Ou seja, cantando e brincando a criança sente a dimensão de suas possibilidades. A brincadeira envolve a criança toda. Ela experimenta, relaciona, imagina, expressa, compreende, confronta, negocia, transforma e constrói habilidades de comunicação, atenção, compreensão, memorização, imitação, etc.
Então pode-se afirmar que é através da atividade de brincar que a criança vai adquirir prazerosamente os complexos repertórios que vão ser exigidos pela etapa seguinte de sua escolarização e pela vida social.
É exatamente em situações de brinquedos livres que podemos desabrochar esquemas operativos na criança, ampliando assim o seu desenvolvimento intelectual.
Através desse processo de incorporação, chamado por Piaget de assimilação, as coisas e os fatos do meio são inseridos em um sistema de relações e adquirem significação para o indivíduo. Mas, ao mesmo tempo em que as idéias e os conceitos do texto da cantiga de roda são incorporados ao sistema de idéias e conceitos que a criança já possui, essas são modificadas. “Esse processo de modificação que se opera nas estruturas de pensamento do indivíduo é chamado por Piaget de acomodação” (FONTANA; CRUZ, 1997, p.45-46, grifo das autoras).
No entanto quando as crianças brincando na roda imitam os cavaleiros, os soldados numa imitação diferida (ela não está vendo concretamente os cavaleiros, os soldados, só as imagens mentais estão sendo articuladas), nesse caso o processo de acomodação estão predominando sobre a assimilação. Segundo Pearce (1989, p. 176) baseado em Piaget, isto ocorre porque: “A mudança estrutural que ocorre só está nos movimentos corporais da criança usados na imitação, e não nas estruturas conceituais de conhecimento sobre a figura imitada”.
É na imitação diferida, onde o processo de acomodação predomina que se faz necessário à criança utilizar uma nova estrutura cognitiva – a memória de evocação, destinada a explicar o que está precisamente em causa – a cópia à distância (isto é, diferida).
Constituído pela palavra, o universo da imaginação é um produto social. E é na ação de brincar, que a criança estimula a sua imaginação. Ao imaginar, ela constrói, recria ou reproduz símbolos. A função da brincadeira simbólica é satisfazer o eu pela transformação do que é real naquilo que é desejado: A criança pode atirar o pau no gato, pode ir a Espanha buscar o seu chapéu, pode deixar a canoa virar, o caranguejo pode ser peixe na enchente da maré, pode ser rica, rica, rica ou pobre, pobre, pobre, pode ir ao Itororó beber água e não achar a água, mas uma bela morena, pode procurar sua gatinha parda que fugiu, pode ladrilhar a rua com pedrinhas de brilhantes para o seu amor passar, pode se envolver na briga do cravo com a rosa. Segundo Martins (1993, p. 43): “Na oportunidade de brincar, é possível à criança ser o protagonista, o criador. O distanciamento leva-a a um mundo onde ela tem uma espécie de poder. o poder de levantar questões, discutir, inventar, criar conceitos novos e transformar”.
A representação é uma das formas de apropriação da realidade e permite a manipulação das imagens dos objetos reais. Quanto mais privilegiado for o ambiente cultural da criança maior será sua possibilidade de criar simbologia. Através das cantigas de roda a criança amplia suas relações intersubjetivas e culturais, e maiores as probabilidades de aumentar o seu repertório de imagens mentais. As imagens podem ser concebidas como imitação interiorizada. Elas ampliam as possibilidades da criança perceber as coisas pelo seu significado
O imaginário cultiva-se. Nesse sentido, esse projeto se justifica pela sua importância para o desenvolvimento cognitivo de nossos alunos do ciclo da infância e pela necessidade através das atividades escolares lúdicas, alimentar o imaginário infantil desenvolvendo a função simbólica com textos poéticos, onde as imagens e sons estão presentes. Onde as crianças possam exprimir o seu imaginário pelos gestos, pelo corpo, pela descoberta do mundo das palavras, cantadas, lidas, ouvidas, imaginadas e escritas. E Isso é possível através das cantigas de roda.
4. OBJETIVOS:
4.1. OBJETIVOS GERAIS:
- Intervir no processo de alfabetização e letramento dos alunos através de atividades lúdicas, que alimentem o imaginário infantil e contribuam para o desenvolvimento da leitura e escrita;
- Permitir aos alunos do primeiro ciclo, ainda em fase de alfabetização, escrever e refletir sobre textos cujo conteúdo já conhece.
4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
- Pesquisar sobre as diferentes cantigas de roda que existem;
- Proporcionar a leitura e a escrita das canções;
- Ampliar o repertório musical e de outras brincadeiras de roda;
- Valorizar as músicas folclóricas que acompanham as festas das diferentes cidades do país;
- Fazer associações entre danças e brincadeiras de roda;
- Conhecer e valorizar a cultura local ou de outros lugares, apropriando-se de sua história e preservando a memória de determinados tempos e espaços.
- Participar de situações de leitura e de escrita sem se preocuparem em decifrar o que está escrito, concentrando-se na reflexão sobre como o texto foi escrito e organizado.
- Ler, escrever e refletir sobre textos que sabem de cor.
5. METODOLOGIAS:
- Recuperar com os pais, avós, amigos, vizinhos e em livros, cantigas de roda;
- Trabalhar com o grupo de alunos as cantigas;
- Analisar as cantigas de roda;
- Desenvolver sequências didáticas (com atividades diversas) relacionadas às cantigas de roda;
- Criar e inventar outras cantigas de roda.
- Confeccionar livretos com as cantigas de roda ilustradas.
6. CONTEÚDOS QUE PODEM SER ABORDADOS COM O PROJETO:
Expressão:
· Leitura, escrita e interpretação das letras das cantigas;
· Sinônimos e antônimos;
· Letra inicial maiúscula;
· Pontuação;
· Grafia das palavras;
· Frase;
· Segmentação entre as palavras;
· Letras (alfabeto) e sílabas
· Parlendas;
· Trava-línguas;
· Advinhas;
· Confecção de cartazes com músicas;
· Musicalidade;
· Jogos populares com sucatas;
· Desenvolvimento da coordenação motora;
· Danças;
· Atividades de escuta (ouvir/falar)
· Noção de espaço;
Ciências Sociais:
· Instrumentos que revelam a interação com as outras culturas;
· O contexto, os rituais e os costumes; brincadeiras em outros tempos de espaços;
· Habitação: tipos;
· Normas de comportamento;
· As brincadeiras na comunidade;
· Brincadeiras dos povos índios e negros;
Ciências da Natureza e Matemática:
·Animais: classificação, modos de vida, alimentação e habitat;
·Insetos;
·Meio ambiente: ambiente terrestre e aquático;
·As partes do corpo;
·Higiene;
· Conhecimento de número: número e numeral;
· Cores;
· Contagem;
· Noções de: agrupamentos;
· Adição e subtração
· Construção/ leitura e interpretação de gráficos.
7. RECURSOS:
· Humanos: alunos, professores e pessoas da comunidade;
· Materiais: papel ofício, lápis de cor, hidrocor, CD, livros, pincéis atômicos, cartolinas, papel AP, papel metro, tinta guache, sucatas, matrizes, álcool, cadernos dos alunos, computador, impressora, aparelho de microsistem, TV e DVD.
8. FONTES DE INFORMAÇÃO:
· Livros de cantigas de roda;
· CD de cantigas de roda;
· Blogs da internet com materiais sobre cantigas de roda.
9. CULMINÂNCIA/SÍNTESE:
O projeto culminará com a realização de o dia da “cantiga de roda” na escola, onde as crianças brincarão e dramatizarão cantigas de roda trabalhadas, onde também estarão expostos para apreciação da comunidade local os livretos produzidos com as cantigas de roda escritas e /ou criadas e ilustradas pelas crianças.
10. AVALIAÇÃO:
Todas as atividades do projeto serão orientadas e acompanhadas pela equipe gestora da escola (direção e coordenação pedagógica) e permanente avaliado nas reuniões dos coletivos escolares, considerando-se os relatos orais dos docentes em relação às atividades desenvolvidas e as aprendizagens construídas pelos alunos nas salas de aula, bem como através da aplicação de um novo diagnóstico das hipóteses de escrita e situação de leitura dos alunos após a aplicação do projeto.
11. BIBLIOGRAFIA
CERQUEIRA FILHO, Manuel Luiz. Jogos e Brincadeiras da infância. Uma experiência em Arte-Educação. In: REUNIÃO PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, 382, 1998. Natal. Anais..., Natal, UFRN, julho 1998. p. 382.
FERREIRA, Sueli. Imaginação e Linguagem no desenho da criança. Campinas, SP: Papirus, 1998.
HUIZINGA, JOHAN. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. Trad. João Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva, 1990.
KIRINUS, Glória. A criança e a poesia na pedagogia Freinet. São Paulo: Paulinas, 1998.
______. Cantigas de roda: o estético e o poético e sua importância para a Educação Infantil. 2003. Tese (Doutorado) – Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
RODRIGUES, José Pereira (coord.). Cantigas de roda. Porto Alegre, RS: Magister, 1992.
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